Arlequín (Arlequim)
Pettoruti, Emilio. 1928
Mais informaçãosobre a obra
Obra-prima
Inventário 7227
Obra Não Exibida
No transcurso de Florência à Paris, em 1910, Giorgio de Chirico iniciou sua experiência, qual definirá como “pintura metafísica”. Contemporaneamente iniciou a circular o Manifiesto futurista e começou-se a fazer mais ou menos visíveis as primeiras explorações do cubismo. O sublinhado destas convergências contemporâneas - entre tantas outras possíveis–situa a proposta deste artista e também revisa o relato da historia da arte moderna que, centrando-se nos processos do que se há denominado “vanguardas históricas”, deixam em lugares pouco precisos ou força inserção no conceito de vanguarda as propostas plásticas de artistas como De Chirico, por exemplo.
Piazza é justamente um trabalho destes primeiros anos prévios a Primeira Guerra Mundial da que participou destinado a Ferrara, onde, se bem a guerra o afetou, consegui continuar traçando laços epistolares com Tristan Tzara, por exemplo, ou conhecer a outros artistas como Carlo Carrà ou Filippo De Pisis, entre outros.
No manuscrito autobiográfico que preparou para publicar em 1919, sinal sua primeira apresentação ante o público parisiense em 1912 no Salão d’Automne com sua pintura foi bem acorrido como mystérieuse et racée. Consignou além sua crescente amizade com Guillaume Apollinaire, de quem realizou em1914 o Retrato premonitorio (Centre Georges Pompidou, Paris), ligado em projetar o plástico de Piazza. Sinalou também a recepção que foi obtendo entre os críticos assim como a aquisição de toda sua produção pelo marchand Paul Guillaume, quem se encarregaria de exibi-la periodicamente. Esta autobiografia está narrada em terceira pessoa, o que lhe permite ao artista seguir afirmações como: “O que constitui a superioridade de De Chirico sobre a maior parte dos pintores de vanguarda é ser um dos que possuem uma longa aprendizagem de academia e de museu, […] Espírito culto, amante da filosofia e do razoamento, natureza eminentemente lírica, se apresenta hoje como um dos mais firmes e interessantes pintores italianos. Junto a Carlo Carrà, Ardengo Soffici e Giorgio Morandi, De Chirico é partidário de recuperar o sentido perdido da tradição” (1).
É justamente esse “sentido da tradição” o que está presente em Piazza, tanto em términos afirmativos como no propósito de discutir com eles ou de subvertê-la. A explicação do espaço, o uso artificiosamente dramático da luz, as arquiteturas entre reais e ficcionais, em fim, o conjunto organizado aposta ao duplo jogo de apresentar a realidade e violenta-la ao mesmo tempo. Constroem assim unas paisagens incertas, inquietantes, que reenviam a una realidade não menos inquietantes. Porque como afirmará uns anos mais par frente: “nós os metafísicos santificamos a realidade”. Porque com a palavra “metafísica” se há proposto expor uma arte além das coisas físicas alcançando os “horizontes inexplorados” e o “inexplicável lirismo” do ângulo formado pelo encontro das paredes e seu “terrível solidão” (2).
Partindo desta perspectiva revela outras dimensões da arquitetura e a arte do passado, expõem algo assim como outro “renascimento”, escuro, espectral, complexo onde as presenças da arte do passado, do oficio e da tradição se convertem em fantasmas que transitam o presente sem conseguir encontrar um lugar preciso.
Esta obra de 1913 (que houvesse desejado ter André Breton em sua coleção dado o interesse que revelou pela produção precoce de De Chirico conectando-o ao surrealismo, movimento que alumbrou), permaneceu em mãos do artista apesar de haver vendido firmemente durante esses anos a coleções europeias e americanas, ainda que curiosamente estivesse ausente - ao menos nos umbrais da década dos anos vinte– das coleções italianas. É em 1930 quando Piazza chega a Buenos Aires dentro do vasto conjunto presentado por Margherita Sarfatti, a instancias do Comitato del Novecento italiano, para exibir-se nas salas de Amigos da Arte em setembro de 1930. Um mês e um ano de singular memoria para a historia argentina, já que foi no 6 quando produziu-se o primeiro Golpe de Estado em nosso país interrompendo a sequencia de governos elegidos democraticamente. A recorrer os jornais portenhos o tema quase excludente era justamente o golpe militar, no entanto, passado uns dias, no 11 de setembro, algumas colunas cederam seu espaço a mostra de arte italiana revelando-se com isso não somente a importância da exibição se não também a empatia mais ou menos visível entre os quem levaram para a frente o golpe e aqueles que foram os “representantes políticos” deste projeto cultural.
1— Giorgio de Chirico, manuscrito autógrafo de 1919, publicado em: La pittura metafisica, cat. exp. Venezia, Istituto di Cultura di Palazzo Grassi, 1979, p. 149-151 com o título “Prefazione” e em: Il meccanismo del pensiero. Torino, G. Einaudi, 1985, p. 149- 151; com o título “Autobiografía” em: Giorgio de Chirico, Sobre el arte metafísico y otros escritos. Murcia, Yerba, 1990, p. 19-22.
2— Giorgio de Chirico, “Noi metafisici…” em: Cronache di attualità, fevereiro de 1919, em: Giorgio de Chirico, op. cit., p. 27-35.
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