César Paternosto. O olhar excêntrico

Ao longo de décadas de trabalho artístico, César Paternosto combinou lucidamente o racional e o sensível. Se existe uma arte emancipada é porque existe uma tensão primordial entre uma ordem regulamentada e a natureza imprevisível da intuição. Essa relação, de fechamento impossível, faz das linguagens artísticas um meio de exploração.

O pensamento visual de Paternosto emerge desse vinculo, a partir desse paradoxo: existe um mundo porque há linhas, cores, planos, seqüências articuladas em uma montagem precisa. No entanto, algo acontece que faz com que a presença sutil da aura vital remova o sonho geométrico. Há sempre um ponto de fuga em suas obras, um espaço dominante que chama seu lado cego. Suas obras são metáforas do sonho geométrico desejado, em que há uma dimensão animista que o excede e o impugna. A experiência visual que el suscita nos convida a descobrir o questionamento sobre a presença de formas no mundo. Mas, além disso, leva a bidimensionalidade da pintura ao limite, apostando na desconstrução das convenções pictóricas com uma proposta única: ao trabalhar nas bordas da pintura, opera um deslocamento de significado que indica uma maneira diferente de assumir a instituição regulamentada do art.

A exposição que o artista apresenta no Museo Nacional de Bellas Artes reúne um conjunto de obras dos anos 60 - que se destacam pelo uso de cores e formas ondulantes - e dos anos 70 - com sua marca geométrica e minimalista -, vários dos quais são exibidos ao público pela primeira vez. Da mesma forma, uma série de obras realizadas por Paternosto nos últimos tempos acompanha a instalação inédita Deconstrucción pictórica, onde ele aprofunda seus postulados: permite que os visitantes mergulhem em uma de suas criações em uma escala monumental.