Comentário sobre Retrato de Marguerite-Elisabeth Forest de Largillière e seu filho Nicolás
Este retrato de Largillière ingressou ao MNBA como
Madre e hija, Georges Lastic identificou a mulher do artista Marguerite-Elisabeth Forest e a seu filho Nicolas ao compara-lo com o retrato de família conservado na Kuntshalle de Bremen, datado em 1704, no que está representado além do próprio artista e sua filha Elisabeth-Marguerite. Largillière se casou com a filha do paisagista Jean Forest em 19 de agosto de 1699.1 Nicolas nasceu em 1704.
Lastic data a pintura do MNBA em 1712, a criança que adorna com flores a cabeleira de sua mãe, em precoce galanteria, parece algo menor aos oito anos que deveria ter aceitado a data aproximada proposta por Lastic. É interessante sinalar o autorretrato de 1711 (Musée National du Château de Versailles), quando o artista contava com 55 anos, no qual se representa trabalhando sobre uma tela com a iconografia da Anunciação. Se o reunimos com o retrato de sua mulher e filho se forma um diálogo entre as figuras, que lembra a relação entre as mesmas da tela de 1704. O retrato de Mme. Largillière e seu filho se integra, então, a serie de retratos familiares, na que se destaca o tardio conservado no Louvre, ca. 1730.
É difícil corroborar a afirmação deste estudioso, de que a pintura do MNBA foi catalogada por Georges Pascal, sem reconhecer aos personagens. Do mesmo modo é difícil identificar se esteve presente na exposição de 1928 que recuperou do esquecimento ao artista (2). O problema de identificar aos retratados é central na obra de Largillière e dificulta, ao titular-se como personagem desconhecido, rastrear as pinturas em inventários e catálogos (3).
Sem duvida o retrato do MNBA corresponde à etapa de amadurecimento do artista. Executado com uma nova atmosfera de harmonia entre os sujeitos e o decorado, com sutis efeitos de cor, num contorno preciso que não interrompe a continuidade entre as figuras e os elementos representados. A pintura presenta o domínio extraordinário no factível das texturas de todo artista académico e na precisão elegante do movimento de mãos. É possível supor uma combinação de pintura ao natural (as cabeças) e esboços de atelier nas mãos, as telas, as flores, o sofá e o cão. As mãos de nosso retrato hão sido relacionadas com um estudo, conservado em uma coleção particular de Gran Bretaña, exposto no Musée Jacquemart André em 2003.
A influencia da pintura holandesa e flamenca no retrato barroco francês, notória na obra de Largillière de fins do século XVII, há começado a deixar passo aos elementos compositivos e a sensação intimista que constituiriam o Rococó. Este artista representou com sua obra, tanto a elegância fastuosa cortesã como o assenso da alta burguesia do século XVIII, novos comitentes de retratos nos tempos de Luís XIV, Regência e Luís XV.
¿É factível pensar neste retrato partindo da tradição de retratos alegóricos? Este género foi praticado por Largillière em obras como
Portrait d’une femme en Astrée (Musée des beaux-arts de Montréal),
Portrait d’une femme en Pomone (Staatliche Kunstsammlungen, Dresde) e
Portrait d’une femme en Diane (The New York Historical Society), este último contem também o
petit chien na mesma posição. No dublo retrato do MNBA pode encontrar-se o substrato mitológico de algumas obras de Largillière, já sinalado por Rosenfeld, neste caso pela presença das flores deveríamos supor que a representação da mulher do artista é de uma Mãe e Vênus, e de seu filho, Nicolas, seria como um Cupido (4). Um jogo de leitura de Ovidio, convencionalmente mais que erótico. Se no autorretrato mencionado Largillière representou-se como um pintor católico, aqui apelou à outra tradição, a do saber clássico para representar outra forma de amor.
por Roberto Amigo
1— “Contrat de mariage” em: Myra Nan Rosenfeld, Largillierre. Portraitiste du dixhuitième siècle, cat. exp. Musée des beauxarts de Montréal, 1981, p. 390-392.
2— Georges Pascal, Largillière. Paris, Les Beaux-Arts, Édition d’études et de documents, collection “L’Art français”, 1928; N. de Largillière, Palais des Beaux- Arts de la ville de Paris (Petit Palais), 1928. Nesta exposição à entrada nº 86 com o título Femme et enfant, proveniente da coleção do barão Maurice de Rothschild, tem medidas aproximadas a obra do MNBA.
3— Não se encontra obra com nominação similar em “Inventaire des biens de Nicolas de Largillierre, Rue Geoffroy L’Angevin, 26 mars 1746” (Paris, Archives nationales, Minutier central, XIV, 329), transcrito em: Rosenfeld, op. cit., p. 392-399.
4— Lesley H. Walker, A mother’s love: crafting feminine virtue in Enlightenment France. Cranbury, NJ, Associated University Presses, 2008, p. 37 y ss.
Bibliografía
1982. LASTIC, Georges, “Largillierre et ses modèles. Problèmes d’iconographie”, L’oeil. Revue d’Art Mensuelle, Paris, nº 323, junho, p. 24-31 y 78-79, reprod. p. 79.
2003. Nicolas de Largillière 1656-1746. Paris, Musée Jacquemart André, Phileas Fogg, p. 132.